Eis uma chance de ver de perto aquele período da História Brasileira que se estudou no colégio e que já gerou tantos livros, filmes e séries. A Rota do Cangaço é uma ótima oportunidade de explorar uma região do Nordeste – mais precisamente, a divisa dos estados de Alagoas e Sergipe – que apesar de pouco valorizada, é das mais interessantes tantos pelos atrativos históricos quanto naturais.

O ponto central é o município alagoano de Piranhas, considerado Patrimônio Histórico Nacional. Dono de um casario histórico super bem preservado e com uma vida noturna das mais movimentadas – com direito a forró todas as noites – é de lá também que saem os catamarãs que levam ao Cânion do Xingó, um mais famosos (e lindos) pontos de visitação do Sergipe.

Casinhas coloridas no município de Piranhas © c_m_foto

Durante a Rota do Cangaço, os guias costumam vestir-se a caráter, com roupas típicas de cangaceiros, e contando detalhes da história do bando de Lampião e Maria Bonita de forma ao mesmo tempo informativa e divertida.

A história de Lampião e do Cangaço

O Cangaço foi um fenômeno do banditismo brasileiro ocorrido no Nordeste do país, quando grupos vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania.

Um de seus principais líderes foi Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião. Conhecido como “O Rei do Cangaço” e “Senhor do Sertão”, atuou durante as décadas de 1920 e 1930 em praticamente todos os estados do Nordeste. Para as autoridades, simbolizava a brutalidade e o mal a ser extirpado; para parte da população do sertão à época, encarnava valores como a bravura e o heroísmo.

Em 1929, Lampião conheceu a baiana Maria Gomes de Oliveira, a “Maria Bonita”, a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Casaram-se e tiveram uma filha (há versões que dizem que tiveram mais filhos, mas não reconhecidos).

Em 28 de julho de 1938, na localidade sergipana de Angicos, Lampião foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi morto junto com Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Todos foram degolados e suas cabeças foram depois expostas publicamente por todo o Nordeste. O fato marcou simbolicamente o fim da era do cangaço brasileiro.

A Rota do Cangaço

A chamada Rota do Cangaço parte do atracadouro de Piranhas, começando com um passeio de catamarã de cerca de 45 minutos pelo leito natural do Rio São Francisco.

A primeira parada é no distrito de Entremontes, conhecido pelo trabalho artesanal das bordadeiras de “rendedê”. Além de ver as mulheres com agulhas, linhas e bastidores nas mãos em suas casas, há um pequeno museu exibindo peças antigas confeccionadas com o rendedê. Outro ponto de interesse em Entremontes é a casa onde o imperador Dom Pedro I se hospedou durante sua passagem pela cidade.

A trilha percorrida é intensa, mas nada como estar no meio da Caatinga! (Foto: Tend Criativa/Divulgação)

Depois de cerca de meia hora, o catamarã segue para o Restaurante Angicos, ponto de onde sai a trilha que leva à atração principal do passeio: a Grota de Angicos. Foi lá que Lampião, Maria Bonita e os demais cangaceiros morreram na emboscada da polícia. Antes, porém, um alerta: a trilha em si é pequena – cerca de 700 metros – mas o calor escaldante do sertão, por entre a vegetação rasteira de cactos e mandacarus, vai requerer um bom preparo, com direito a várias pausas para tomar água e descansar. Mas vale a pena ver de perto a Caatinga, bioma que só existe no Brasil, especialmente no Nordeste.

A Grota de Angicos, local onde uma emboscada da polícia matou Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros © marinelson

Logo no inicio da caminhada, o visitante é chamado a atenção para uma casa de taipa supostamente teria sido de Pedro Cândido, um dos coiteiros (os que davam asilo e proteção) de Lampião. A história dele, aliás, é bem controversa: há quem diga que foi ele quem entregou o paradeiro do grupo após ser torturado pela polícia de Alagoas, ou que recebeu em troca da delação o posto de subdelegado de Piranhas.

O nome de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em destaque, na gruta (Foto: Chico Brandão/Divulgação)

A Grota de Angicos faz jus à escolha de “lugar seguro” de Lampião, pois realmente é de difícil acesso. No local hoje estão cruzes e placas com os nomes dos cangaceiros emboscados, além da de Adrião Pedro de Souza, o único soldado morto no confronto.

Dica: quando voltar ao ponto inicial do passeio, aproveite para almoçar provando delícias típicas locais, como o tucunaré frito e um doce feito de cactus!

Fazenda Mundo Novo

Outra opção de passeio temático sobre o cangaço é visitar a Fazenda Mundo Novo, a 30km do lindo município de Canindé de São Francisco. A área de 663 hectares, em meio à vegetação da Caatinga, servia de refúgio para Lampião e seu bando.

Os detalhes históricos da passagem de Lampião podem ser conhecidos através da Trilha do Cangaço. São 557 metros de trilha, que passa tanto pela famosa Banheira de Maria Bonita, uma formação rochosa onde a mulher de Lampião costumava banhar-se, como pelo local onde o casal dormia (uma cama de pedra sob rochas).

Os mais antenados vão identificar o local como cenário da minissérie “Amores Roubados” e da novela “Cordel Encantado”, ambas da TV Globo. Informações sobre os passeios podem ser obtidas pelo site da Ecofazenda Mundo Novo.

Como chegar a Piranhas vindo de Aracaju

  1. De carro pela BR 101 sentido Maceió, seguida pela SE -106, passando por municípios como Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Canindé.
  2. De ônibus, são 4,5 horas de viagem entre Aracaju e Piranhas, com passagens à venda nesse site.
  3. Há também agências de excursão como a Nozes Tur e Peregrinos, com pacotes que incluem hospedagem, a Rota do Cangaço e passeio ao Cânion do Xingó.
E aí, ficou animado para conhecer mais sobre o sertão nordestino e a história de Lampião? Embarque numa viagem para percorrer a Rota do Cangaço!

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